
Versos da poeta de Afogados da Ingazeira, Izabel Goveia (na foto), uma cabôca de 21 anos que faz versos como gente grande. O mote é de Severina Branca, outra poeta pajeuzeira de São Jose do Egito. Duas sertanejas que usam a poesia para expressar o que sentem.
O SILÊNCIO DA NOITE É QUE TEM SIDO
TESTEMUNHA DAS MINHAS AMARGURAS
No cenário desbotado do meu quarto
Pela janela a luz da lua, ilumina
A presença da alma feminina
Com os restos de beijos e abraços,
A camisa esquecida deixa os traços
Da lembrança que passa desprezada,
Um pedaço de coisa já passada
Do amante que ha muito tem partido,
O silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras
Pelas ruas eu já perambulei
Procurando a resposta da tristeza,
Mais o que encontrei foi a frieza
Da verdade esmagando um sentimento,
Enrolei-me no lençol do sofrimento
Só por causa da tua ingratidão,
Mais se hoje implorasse o meu perdão
Eu chorando aceitava o teu pedido,
O silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras
Sou agora uma amante esquecida
Parecendo um cadáver sem ter dono,
Minha alma já entregue ao abandono
Esqueceu-se do meu corpo e foi embora,
Mais a dor que meu peito tem agora
Só me lembra aquele que partiu,
Sem nenhuma piedade me feriu
Fazendo-me perder todo o sentido,
O silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras
Sou um vulto açoitado pela noite
Solidão que habita a madrugada,
Um mendigo deitado na calçada
Com os olhos de quem não tem comida,
Sou saudade de coisa já perdida
Só um feto doado ao abandono,
Sou um cão que se perdeu do dono
Sou as rugas de um velho esquecido,
O silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras.