Por várias vezes, em diversos encontros, os poetas Manoel Filó e Jó Patriota, travaram grandes embates, em cantorias memoráveis. Esses encontros, sempre regados com Pitu D7ne, se davam em casas de amigos, nunca de modo profissional. E foi neste universo de simplicidade e lirismo, que saíram essas magníficas perolas improvisadas pelo mestre Manoel Filó, instigado com as deixas do poeta do lirismo, Jó Patriota..
Fiquem a vontade!
Jó
A chuva de pedra amassa
Qualquer barracão de zinco.
Manoel Filó:
No ano de oitenta e cinco
Quando chegava a tardinha
O povo chega tremia
Sabendo que a cheia vinha
Tapando as cacimbas feitas
Fazendo aonde não tinha.
Jó:
Normalmente a prostituta
Deixa o companheiro farto.
Manoel Filó:
São companheiras de quarto
Da mulher prostituída
Uma bacia com água
Uma toalha encardida
Aumentando os arranhões
No quadro negro da vida.
Jó:
Vamos cantar mais um pouco
Enquanto a chuva não cessa.
Manoel Filó:
Quando o inverno começa
Fica o mundo transformado
O mato que apodrece
No aceiro do roçado
Fica desprendendo um cheiro
De bacalhau cozinhado.
Jó:
Manoel ficou parado
Mas agora decidiu.
Manoel Filó.
João dos Passos me pediu
Que eu cantasse um pouquinho.
Mas eu me sinto cansado
Igualmente a um passarinho
Que passou o dia todo
Tangendo cobra do ninho.
Jó:
A memória fica falha
Depois que a idade cresce.
Manoel Filó:
O homem quando envelhece
Fica todo diferente.
Embora ele tenha sido
Um rapaz inteligente,
Começa aparecer falhas
Nas engrenagens da mente.
Jó:
O inverno muda o cheiro
Do campo na ventania.
Manoel Filó:
Quando a chuva principia
Se recomeça o trabalho.
Quem olhar, vê pelas plantas
Milhões de pingos de orvalho,
Como se houvesse um rosário
Pendurado em cada galho.
Jó:
Como foi ingrata a vida
Da tua mãe e da minha.
Manoel Filó:
Mãe deitava uma galinha
Numa tigela quebrada
Escorava com três pedras
E mais um caco de enxada
Para os ovos não gorarem
Se desse uma trovoada.
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