domingo, 13 de abril de 2008

Fala, Ricardo Anísio!


Viagem sem volta

Vates & Violas lança seu segundo CD “Quem Não Viaja, Fica!” durante apresentação amanhã no Teatro Paulo Pontes

Ricardo Anísio
ricardoanisio@jornalonorte.com.br

O grupo (ou seria melhor chamar de dupla?) Vates & Violas virou uma lenda alternativa na música do Nordeste, tanto quanto na sua riqueza poética, herança de cantadores e trovadores nordestinos que lhes foram apresentados pelo pai, o lendário cantador e poeta Zé de Cazuza. Agora com um som mais amadurecido do que no CD de estréia, eles chegam ao palco do Teatro Paulo Pontes (Espaço Cultural José Lins do Rego, em Tambauzinho) amanhã (11) mais conscientes, para lançar o segundo disco, "Quem Não Viaja, Fica". No show desta sexta-feira estarão participando os poetas Felizardo Moura (irmão de Miguel e Luiz), Marco Di Aurélio, Feitosa Nunes e Zé de Cazuza, este último, 'lambendo as crias' sobre as quais semeou tantos versos e estórias. Os ingressos para a cantoria de lançamento custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (para estudantes). A apresentação começa às 21h.

No primeiro disco, que vendeu nada menos do que dez mil cópias, sem nenhum aparato de divulgação institucional e esgrimando com a alienação reinante onde músicas pobres abocanham o mercado sem dó nem piedade, Miguel Marcondes e Luiz Homero conseguiram a respeitabilidade dos que se interessam por poesia, e por música, sem concessões. Formado em 1997, portanto já com 11 anos de caminhadas, o Vates & Violas hoje é um comboio, uma caravana, uma trupe. "Não pensamos somente como dupla, mas entendemos que somos um grupo de todos que tocam conosco e caem na estrada", disse Luiz Homero ao caderno Show em contato no Recife, semana passada.

Canções como "Ladeiras e Carnavais", "Tibumgo", "Clorofila" e "Saudade Boa" entre outras, deixam bem claro que o pó da estrada deu um cabedal maior aos vates que com suas violas em punho transgridem qualquer curso normal de que se tenha notícia na música atual. "Quem Não Viaja, Fica!" é um disco daqueles a serem catalogados como World Music, pela maneira reverencial com que tratam suas influências mas viajando por outros prados, sem a menor cerimônia. Miguel e Luiz lidam bem com os versos, prenhos de metáforas, o que faz de suas obras algo inovador sem deixar de ter o gosto de raiz.

De uma década pra cá o que lhes coube foi dar um polimento na sonoridade e trabalhar a capa do CD como lhe é devido: o futuro abraçando o passado, para construir o presente. Diríamos que, talvez até inconscientemente, Luiz Homero e Miguel Marcondes têm um que de Raul Seixas, principalmente na viagem planetária que propõe, e no despojamento musical que bebe no sertão e no espaço, sem pousar nas capitais tão frias e violentas.

"Fizemos esse disco com mais zelo, tivemos mais tempo e mais condições para dar qualidade técnica ao que já vínhamos perseguindo", disse Homero quando de nossa conversa rápida na loja Passadisco, em Recife. Eles rejeitam a pose de superstar, e suas esquisitices são naturais. Mas não entendam cá ser esquisito com ser chato, arrogante ou coisa que o valha. Eles são mesmo os bicho-grilo dos quais a urbe ainda não tirou o cheiro rural. Mas também está longe de serem fruto dessas duplas pseudo-sertanejas que empestam o mercado fonográfico.

"É importante a banda fazer um disco que pode ser levado ao palco sem muita diferença do estúdio para não decepcionar nem confundir o público", diz Miguel Marcondes para explicar que os músicos que gravaram o disco estarão no palco do Paulo Pontes amanhã.

Publicado no jornal O Norte, Paraiba, dia 10 de abril.

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