O poeta e professor Aleixo Leite Filho e o poeta repentista Diniz Vitorino com Cancão num registro do apologista Urbano Lima
Eu, cada vez que folheio o livro Palavras ao Plenilúnio do poeta Cancão, impressionado fico. Não só pelo rigor na rima, na métrica e na oração, mas também por ser Cancão a figura impar que é. Vejamos o que escreveu sobre ele o pesquisador, escritor e folclorista Francisco Coutinho Filho, no seu livro Violas e Repentes, de 1953, Cap. XII, pp 65/69.
“João Batista de Siqueira, conhecido pela alcunha de Cancão, é um agricultor pobre, de mãos calosas, acentuadamente introspectivo, vive preso a tristeza indissimulável de um desgosto íntimo. Ajusta-se aos derivativos de uma existência calma e conformada, no árduo trabalho da roça e no doce cultivo da poesia. É um lírico de remígios impressionantes(…) Vive na reclusão voluntária do seu tiquinho de terra no sitio Queimadas, do município pernambucano de São Jose do Egito. Nasceu lá, no dia 12 de maio de 1912. Deixou de cantar em 1950. Freqüenta a cidade, sede do município, algumas vezes, nos dias de feira, aos sábados(…)”
Em 1953, era essa a imagem de Cancão, assim como foi até o “fim da vida” em 1982, de uma simplicidade sem antecedentes. Geraldo Amâncio, grande poeta repentista, numa tarde de 06 de janeiro do ano que não me lembro, com certeza inicio da década de 1980, observava Cancão que cochilava numa cadeira enquanto Pinto do Monteiro cantava com o aniversariante do dia, Lourival Batista, em sua casa em São Zé – casa de Louro. Geraldo, logo após, indo cantar com Louro, nos primeiros acordes da viola, Cancão desperta, ao que Geraldo emenda;
Cancão as vezes parece
Não saber quem canta bem
Pinto cantando ele dorme
Eu vou cantar ele vem
Mas todo gênio e ingênuo
Não sabe o valor que tem.
Não saber quem canta bem
Pinto cantando ele dorme
Eu vou cantar ele vem
Mas todo gênio e ingênuo
Não sabe o valor que tem.
Lendo e relendo seu livro, uma coletânea lançada recentemente pelo poeta Lindoaldo Junior, numa compilação de seus três livros; Musa Sertaneja, Flores do Pajeú e Meu Lugarejo, alem de poemas inéditos, fico impressionado com a magnitude de seus versos. Do poema Meu Lugarejo, extrai esta belíssima estrofe;
(…)
Esvoaçam preguiçosas
As abelhas pequeninas
Tirando néctar das rosas
Das regiões campesinas
Os colibris multicores
Pelos serenos verdores
Perpassam com sutileza
O orvalho cristalino
Lembra o pranto divino
Dos olhos da natureza.
(…)
Esvoaçam preguiçosas
As abelhas pequeninas
Tirando néctar das rosas
Das regiões campesinas
Os colibris multicores
Pelos serenos verdores
Perpassam com sutileza
O orvalho cristalino
Lembra o pranto divino
Dos olhos da natureza.
(…)
A benção Mestre Cancão, cultivador de versos geniais e malassombrados, habitante do mundo do invisível, ainda tão presente e real em nossas vidas!
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