segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Como diria o Papa Berto "Um poema da bixiga lixa"

ZÉ MOURA

Diálogo em sonho, com minha irmã Lindalva
após a morte de minha mãe.

Lindalva, mãe acordou?
- Eu nem sei, nem fui olhar.
- Eu também não sei se vou!
Não gosto de incomodar
Que achas, devo acordá-la?
- É melhor ficar na sala
até ela se acordar.
- Será que vai demorar?
- Eu nem sei dizer José,
Sei que lhe servi café
As seis horas da manhã
Com aguardente alemã
Pra controlar a pressão
Pouca coisa ela comeu
Deitou-se e adormeceu
Não fui ao quarto mais não.
Talvez esteja acordada,
Vá lá, e dê uma olhada,
- É melhor mesmo, eu vou ver
Já está ficando tarde
Tenho tanto o que fazer!

Oi mãe, já se acordou?
Dormiu bem? O que sonhou?
- Oi meu filho, que prazer!
Já faz tempo que chegou?
- Mais ou menos uma hora
Não acordei a senhora
Que Lindalva não deixou.
Porque mãe não respondeu
O que eu lhe perguntei?
Será que se esqueceu?
- Não meu filho, estou lembrada
Perguntou se dormi bem
E também o que sonhei
Foi isto? Ou estou errada?
- Não! A senhora está certa
Foi isto que perguntei...
- Não meu filho, eu não sonhei
Não sonho nada porque
Não pertenço mais ao mundo
Estou num sono profundo
Quem está sonhando é você.

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