Daniel Fiúza Pequeno, ou simplesmente, poeta Daniel Fiúza, é natural de Caucáia-CE, e reside em São Paulo a mais de trinta anos. É poeta, cordelista e artista plástico, e autor dessas obras primas que aqui transcrevo. São cinco sonetos sem cada uma das vogais, soneto sem “A”, sem “E”, e assim por diante, e mais um soneto sem verbo. Verdadeiras obras primas da criatividade e da amplitude do fazer poético.
Eis os alvitres.
Soneto sem “A”
O grito mudo
Pensei como crédulo o oficio
Nesse firme propósito selei
Os meus tolos versos no comício
O retorno foi sonho que sonhei.
Vergonhoso gesto estrupício
No mister vivido que serei
Bebendo veneno é meu vicio
Mudez do destino sofrerei.
Num escuro tenebroso grito
Por onde o eco se perde inócuo
Ser um ser feliz sonoro imito.
Vendo velhos deuses que invoco
O meu próprio viver irrito
No dolo desespero que enfoco.
Soneto sem “E”
Sorumbático
Clamo por paz na vida ao divino
Por não mais suportar o ardor da dor
Afligindo o corpo só arruíno
Intranqüilo sigo parvo amador.
Faca afiada corta o sonho fino
No ridículo ato frio faz impor
Na vida atribuindo o próprio tino
Da rubra rosa tira toda à cor.
O ódio incrustado no vil motim
No ritual danoso ali sofria
Chorando sua dúvida via o fim.
Sorumbático, mais nada valia!
Nunca confiava no mundo assim
No infortúnio chora o dia-a-dia.
Soneto sem “I”
Emoção
Desejo o meu amor leal e seguro
Agregado nas lavas dum vulcão
Magno sabor lança o corpo puro
Transbordando de afagos e emoção.
Fartando toda a sede, eu aventuro!
Com rosas perfumando o coração
A sensação avança meu futuro
Para o prazer fazendo a sedução.
Somente vejo o pouco que espero
Raras vezes que o presente seduz
São perguntas, sensações que quero.
É tanto amor no espaço que reluz
Nessa verdade, arguto me esmero!
Arrebatado ao âmago me conduz.
Soneto sem “O”
Mulher amada e amante
Ter uma mulher para amar na vida
E padecer para tê-la amante
Sentir na pele à pétala querida
A sua pedra rara mais galante.
Prazeres de abelha em margarida
Néctar na minha língua arfante
Fêmea amada, paladar sentida!
Eterniza-se em mim tal diamante.
E se deuses querem ajudar
Esse casal feliz fecha algemas
Na sua sensualidade a desejar.
Lascívia peregrina seus temas
A linda fêmea ávida, quer seu par!
Para Brilhar em si aquelas Gemas.
Soneto sem “U”
Real valor
Ter real valor na efêmera vida
Diante das coisas passageiras
O pior da rosa fica escondida
Sangra nos espinhos das roseiras.
Nessa indiferença abre à ferida
Jorrando lágrimas carpideiras
Choro nessa perda indefinida,
Manchando falas derradeiras.
Ainda acredito na vida e no amor
E na dedicação entre as pessoas,
Mesmo sem paz e sentindo amargor.
Desesperançado das coisas boas
Afeiçoando-me com essa dor
Vivendo tristemente faço loas
Soneto sem verbo
Corpo de néon
Os néons, cores fosforescentes
Corpos lindos nas folhas de prata
Ouros pragmáticos aparentes
Futuro da vida, à verde mata.
Pesos apocalípticos conscientes
Cabeça inoxidável e grata
Nos grandes amores dissidentes
Na mulher à graça duma gata.
Tantas madrugadas famintas
Na cabeça lindos pensamentos
Olhos do homem, setas sucintas.
Em todas carências congênitas
Do amor, em simplórios sofrimentos!
Esperanças das fomes finitas.
2 comentários:
Domfiúza, realmente o que vi aqui são verdadeiras obras de arte - encantou-me teus sonetos! A forma de escrevê-los é algo assim, sem palavras para explicar a grandiosidade que eles encerram numa composição magnífica. Gosto dessas formas rebuscadas das escritas - fez-me lembrar um poema com as consoantes oclusivas “t" e 'd' - Tecendo a manhã -, onde João Cabral de Melo Neto passou sete anos o elaborando.
Pabéns Poeta!
Abraço fraterno. Reinadi.
Encontrei esse endereço no Recanto das Letras e confesso que me senti lisonjeada por Domfiuza ter comentado e apreciado minha poesia.
Seus sonetos são ricos!
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