“Sua infância foi risonha? / calma não responda agora” Assim começa um poema de Chico Pedrosa, sertanejo de nascença, que, como muitos outros, sofreu a infância dos tempos difíceis de seca. Assim como meu pai, de família pobre e numerosa. Estes versos, constantes do livro “As curvas do meu caminho” retratam bem o que ainda hoje se repete.
Dizem que a infância é bela
Pelos adultos lembrada
Eu não posso dizer nada
Porque não passei por ela
Não tive animal nem sela
Nem bicicleta infantil
Só conhecia bombril
Porque trazia do mato
As buchas de lavar prato
Que cada pé dava mil.
Toda Sexta feira eu tinha
A missão constrangedora
De ir procurar vassoura
De relógio ou vassourinha
Mãe cuidava da cozinha
Do terreiro, eu e Luiz
Quem assoasse o nariz
Até sangue aparecia
Nesse tempo eu nem sabia
Que havia infância feliz.
No dia em que completei
Meus nove anos de idade
Tive uma felicidade
Que jamais esquecerei
Do meu velho pai ganhei
Um passeio em São José
Quando comecei dar fé
Da vida longe do lar
Mas tive que caminhar
Quase oito léguas a pé.
Cansei de levar galinha
Que produzia um som rouco
Pra ela largar o choco
No terreiro da vizinha
Superstição que mãe tinha
Tal qual fosse uma vacina
Aquela ação repentina
Significava um título
Eis aí mais um capítulo
Da cultura nordestina.
Nesse tempo não havia
Televisão e nem rádio
Não se conhecia estádio
Porque ninguém construía
Se uma criança nascia
Pai tratava de levar
A placenta e enterrar
Na carapuça de um morro
Onde não tinha cachorro
Que conseguisse arrancar.
Manoel Filó
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