Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife, já foi reduto da brincadeira, que hoje retorna a passos lentos
Carolina Santos
carolinasantos.pe@dabr.com.br
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Camaragibe é um dos patinhos feios da Região Metropolitana. Transformou-se em cidade por conta dos latifúndios e da primeira vila operária da América Latina, da Companhia Industrial Pernambucana. Atualmente, a parte mais bonita do centro é uma enorme praça de grama verde na entrada da cidade. São poucas árvores para sombra e, talvez por isso, a praça fica quase sempre vazia durante o dia. No centro, a poluição visual reina absoluta. Por todos os lados há placas, banners, cartazes, outdoors.
Adiel Luna e Coco Camará investem em pesquisa para resgatar herança de antigos mestres Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press |
O Coco Camará começou timidamente em 2002. A formação atual, que é de palco, começou no final de 2008. Já viajaram para apresentações na Alemanha e participaram do Rec-Beat deste ano. O Camará trabalha com coco de senzala, de improviso, refrão. O que diferencia um do outro é a batida do pandeiro, explica Adiel. A receptividade ao grupo em Camaragibe tem sido boa. "Quando começamos o coco estava quase morto na cidade. Mas fomos muito bem recebidos porque o traço do coco já estava no povo", acredita Adiel. "Quanto mais vamos buscando, mais vamos nos surpreendendo com a quantidade de histórias sobre a música e as festas do passado", diz.
Parase tocar coco não é necessário muitos recursos. No Camará, por exemplo, são poucos instrumentos: matracas (geralmente tocadas pelas meninas do coro), pandeiros, bombinho (uma espécie de alfaia reduzida) e ganzá. "Os cocos geralmente têm refrão e estrofe pequena, o da gente tem o refrão, a obrigação (a parte mais acelerada) e o resto é improviso, cada oportunidade é uma chance diferente. Não só na dança, mas também na música o povo é protagonista da brincadeira", explica Adiel.
Há quatro anos, junto com o Laboratório de Intervenção Artística (Laia), os integrantes do Coco Camará passaram a promover a Sambada da Laia na Vila da Fábrica, sempre no segundo sábado de cada mês. Uma festa da cultura popular, mas também um local de reencontro. "A ideia é que as pessoas mais velhas possam ter um lugar para novamente ouvir coco - e as gerações mais novas redescobrirem a tradição da cidade", conta Marcone Alves, integrante do Camará e coordenador geral do ponto de cultura Tecer (Teia de cultura e educação de raiz). "Nosso objetivo é resgatar e reconhecer as pessoas que ainda estão vivas. Para que o povo possa conhecê-los. Camaragibe é uma cidade com uma história de cultura popular muito rica, mas inconstante. Além do coco, é uma cidade também de caboclinhos, forró pé-de-serra. Como houve uma sucessão de gestões, isso nunca foi valorizado", critica Adiel.
Vencedores do último festival Pré-Amp, Adiel Luna e Coco Camará se preparam para gravar o primeiro CD, com produção musical de Miltinho, do Pandeiro do Mestre, e participação especial do mestre Galo Preto. O lançamento deve acontecer ainda neste ano.
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