Comentário-cordel sobre o artigo do médico escritor Ronaldo Correia de Brito no Nº 42 da revista Continente Multicultural na coluna Entremez intitulado Reflexões sobre o nosso tempo 1 – A imagem.
A Medusa moderna
ou A besta fera da televisão
O fascínio da imagem
Permeia a humanidade
Desde os tempos mais remotos
Se sobrejulga verdade
E o duvidoso só crer
Naquilo que ele ver
Pra dar legitimidade.
Uma história antigamente
Fosse escrita ou narrada
Tinha a força da imagem
Sendo ela bem contada
Que quem escutava ou lia
Sua imagem construía
Na própria mente moldada.
Cada mente revelava
Um mundo bem diferente
Pois o abstrato é parte
Indissolúvel da mente
Pertence a cada sujeito
Sem ter forma nem conceito
Idênticos à toda gente.
Porém nada superava
Tão pouco reproduzia
Os deleites da visão
Pois tudo quanto se via
Na sua totalidade
Se creditava a verdade
Diluindo a fantasia.
Os poetas, os pintores
Artistas e criações
Que refaziam imagens
Nas suas divagações
Eram raros pensadores
Que atribuíam valores
A suas próprias visões.
Nos tempos da Grécia antiga
Deuses da mitologia
Habitavam céus e terras
Onde tudo interagia
Numa profusão de crenças
E de vibrações intensas
Pelo poder da magia.
Os grandes feitos dos deuses
E atributos divinais
Foram narrados e escritos
Em versões originais
Que ressaltavam as dores
Regadas pelos amores
Que tiveram com mortais.
Desta insólita união
Entre deuses e humanos
Gerava-se o nascimento
Dos heróis em seus ufanos
Eram os seres dotados
De poderes encantados
E indecifráveis arcanos.
Perseu foi um dos heróis
Que este universo habitou
Em suas longas jornadas
Muitas feras enfrentou
Mais sua maior vitória
Foi quando cheio de glória
A Medusa derrotou.
Górgona era a divindade
Que todos que lhe fitavam
Que em seus olhos olhassem
Em pedras se transformavam
Esta era a punição
E o destino da missão
Daqueles que lhe enfrentavam.
Sua imagem era um imã
Para o olhar atrevido
Mas o nosso herói Perseu
Por Zeus era protegido
Tinha um escudo encantado
Lhe deixando imunizado
Do que era refletido.
Todo poder da Medusa
Estava por fim desfeito
Refletida a sua imagem
Não tinha nenhum efeito
Foi ela então derrotada
Pela imagem refratada
Anulando o seu preceito.
Ver as coisas refletidas
Nos dá outras dimensões
Permitindo recriar
Com novas reflexões
Como na alegoria
Que figuras produzia
Num leque de conclusões.
Porém a humanidade
Durante o século passado
Passou a evoluir
Em ritmo acelerado
Tangida por fortes ventos
De controversos inventos
Com efeito ignorado.
Se inventa, se descobre
Se renova e se recria
Se instala a modernidade
Nova era principia
Nos trazendo antigas feras
Passadas em outras eras
Com nova filosofia.
As feras ressuscitadas
Na força da evolução
Renascem com seus poderes
Numa maior proporção
E o próprio homem que inventa
É também quem alimenta
Seu furor de maldição.
Ressurge então a Medusa
Na sua versão moderna
Como já dizia o sábio
Na passagem da caverna
Usando uma camuflagem
Ocultando a própria imagem
Numa imprecação eterna.
Sucumbindo a humanidade
Numa imensa corrosão
Mantendo fito os olhares
Petrificando a razão
Seu poder destruidor
Hoje é o gerador
Da BESTA televisão.
Poeta Jorge Filó
Recife, 16 de Junho de 2004.
Um comentário:
Ta massa!
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