Jorge Renato de Menezes, poeta conhecido artisticamente por Jorge Filó, nasceu em Recife em 1969. Viveu a infância entre as cidades de Recife, Tuparetama, São José do Egito e Arcoverde. Nesta última, viveu da adolescência à fase adulta, exercitando a produção cultural, quando se mudou para o Recife em 1998, onde reside até hoje.
domingo, 2 de dezembro de 2007
Bio de Crisanto "O poeta da janela"
Severino Cordeiro de Sousa (Bio de Crisanto), nasceu aos 09 de maio de 1929, no povoado São Vicente, na época município de São José do Egito. Filho de Crisântemo Olegário de Sousa e Blandina Maciel de Sousa, nos seus primeiros anos de vida foi residir em Sumé – PB, retornando à Capital da Poesia já adolescente. Aos oito anos de idade, escreveu sua primeira poesia, “Vida na Roça”. A partir daí a arte do versejar tomou conta da sua vida e, junto ao irmão Macilon Olegário de Sousa, foi cantador de viola durante três anos.
Na década de 50, logo após o falecimento de seu genitor, Bio de Crisanto mudou-se para Jacobina – BA, onde exerceu outras atividades profissionais. Naquela cidade, em novembro de 1959, por excesso de trabalho, sofreu um esgotamento físico e foi hospitalizado. Uma enfermeira sem conhecimentos anatômicos aplicou-lhe uma injeção no glúteo onde a agulha atingiu a cartilagem do tendão de locomoção. A partir dessa data o poeta não andaria mais.
No início da década de 60, Bio retorna a São José do Egito e começa sua luta para adequar-se a doença que o acometeu. Depois de morar alguns anos com a família, decide residir sozinho.
Grandes companheiros de suas horas de solidão foram amigos, familiares e os livros. Foi principalmente na dedicação à leitura que Bio de Crisanto superou suas mágoas e, na poesia, expôs toda sua sentimentalidade, valorização ao regionalismo e teorias sobre a vida. A arte do pensar foi a grande responsável pelo título que recebeu: “Poeta Filósofo”.
Na década de 60, em períodos tensos de nossa história, Bio escreveu “Fase Semi-Feudal”, poema consagrado que lhe rendeu elogios além fronteiras pernambucanas. Por se tratar de versos hostis ao regime militar, nenhuma das suas 14 estrofes foi publicada no seu livro.
Em 1975, o sonho de publicar um livro é realizado. Prefaciado pelo grande amigo e poeta Aleixo Leite Filho, Bio de Crisanto lança “Meu Trigal”, um composto de prosa e versos. Na obra, o poeta conduz o leitor aos seus pensamentos filosóficos e envereda na poesia, dando ênfase ao estilo soneto.
Nas horas de conversa, quase sempre debruçado na janela de sua residência, localizada na Rua do Poeta, denominação escolhida em sua homenagem, Bio atendia inúmeros estudantes em busca de conhecimentos, levantava importantes assuntos ao lado de amigos e sempre que outro poeta o visitava, a glosa tomava conta do ambiente.
Na década de 90 foi fundador do Clube de Cultura Literária, entidade que por mais de dez anos foi instrumento forte na promoção cultural da Região. Ainda nessa época, participou de diversos concursos de poesia, obtendo os primeiros lugares.
Membro da União Brasileira de Escritores, teve alguns de seus poemas publicados em jornais e nos livros “São José do Egito – Musa do Pajeú” e “São José do Egito – Solo Sagrando, Mentes Iluminadas”.
Bio de Crisanto faleceu com 71 anos, aos 22 de agosto de 2000. Seus poemas inéditos estão sendo catalogados e serão inseridos na publicação de seu segundo livro “Meu Madrigal”, título escolhido pelo poeta antes de sua morte. O novo livro trará, também, todo o conteúdo da primeira publicação.
Estrofe 11 de “Fase Semi-Feudal”
(...)
“Libertas quae será tamem”
Quem dissera, quem dissera,
A frase existe entre nós
Liberdade quem nos dera!
De que vale independência
Onde não há consciência
Moral nem patriotismo,
Onde o Direito se vende
A Lei covarde se rende
Aos pés do capitalismo.
(...)
Soneto extraído do livro “Meu Trigal”:
Dúvida
Nasci! De onde vim é que não sei,
Enfim, também não sei para que vim,
Se vim para voltar para que fiquei
Neste intervalo de incerteza assim?
Não foi do pó fecundo que brotei,
Não sei quem tal missão me impôs a mim,
O acaso não foi, já estudei...
Desta incumbência desconheço o fim.
Sou a metamorfose das moneras
Desagregadas nas primeiras eras,
Reunidas hoje nesta luta infinda.
Sou a passagem irreal da forma
Submetida aos desígnios da norma,
Do meu princípio não sei nada ainda.
O texto acima é de autoria de Geraldo Palmeira, sobrinho do poeta Bio.
A foto é do arquivo de Zelito Nunes.
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Um comentário:
Você sabe me dizer onde é possível conseguir o livro desse poeta?
Obrigada.
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