O poeta, escritor e pesquisador, Pedro Américo de Farias,
natural de Ouricuri, região do Araripe pernambucano, será o homenageado, da II
Jornada Literária Chapada do Araripe, uma realização SESC-PE, que acontecerá de
18 a 27
deste mês em cinco cidades e dois distritos da região [Em breve programação
completa].
Nesta entrevista, concedida ao nosso blog, com
exclusividade, o poeta nos fala um pouco de tudo e convoca a todos para
participar da Jornada, que culminará em sua Ouricuri com uma Mesa de Glosas e
recital poético.
Entrevista por Jorge Filó.
Quando e como surgiu o Pedro Américo poeta, escritor e
curioso de tudo?
– Primeiro veio o curioso de tudo, depois, pelos 13 anos, as
primeiras leituras fora dos livros escolares, entre as quais o Tesouro da
juventude. Já no Recife, depois do vestibular, comecei a ensinar em cursinhos
preparatórios para supletivo e pré-vestibular (início dos anos 1970). Então,
curtindo os textos na preparação de aulas fui descobrindo que eu também podia
escrever, pois era só dar rédeas à imaginação e arrumar as frases da melhor
maneira. Assim na poesia como na prosa, para décadas com fim, amém!
Quais suas referências literárias de sempre e de hoje,
regionais e universais?
– Sou um leitor compulsivo e generalista. Gosto de tudo que
tem sabor de engenho e arte, o que é encontrável em todas as tribos do mundo,
na escrita como na oralidade. Homero e Pinto do Monteiro, Guimarães Rosa e
Aquilino Ribeiro, Baudelaire e Manuel Xudu.
Como foi sair do Araripe, há 45 anos, e agora voltar como
homenageado em um evento literário com a importância da Jornada?
– Não cultivo a vaidade pessoal como fatura de um status.
Acredito na produção literária como dupla vertente: a) sou funcionário de uma
instituição pública, para a qual entrei porque leio,escrevo, reviso e edito,
portanto vivo de literatura; b) encaro o meu trabalho como militância política
(a luta pela sensibilização e a liberdade de expressão) e como instrumento de
prazer. Recebo a homenagem com muita simplicidade e com alegria, pelo que, ao
meu ver, significa: reconhecimento ao meu trabalho de escritor e animador
cultural (expressão gasta, mas é o que é). Esta homenagem também significa que
a região do Araripe, como qualquer outra do planeta, integra o mundo do pensar
e do fazer artístico. Vem por mim e vem por todos os que escrevem ou
experimentam a arte literária/poética, nestes ermos distantes do colarinho
engomado de todas as urbes letradas.
Que transformações, culturais e sociais, um evento como a
jornada, pode legar a região do Araripe?
– Citando Castro Alves: “Oh! bendito o que semeia / Livros,
livros, à mancheia / E manda o povo pensar...” – tirando o desnecessário
‘manda’, que vem do positivismo, fecho com Castro Alves na ideia de que tudo de
bom, na vida como na educação – o Sesc é uma instituição educativa –
consiste em gerar oportunidade igual
para todas as pessoas, estejam onde estiverem. Assim, vemos fluir a invenção e
fruir o prazer do invento.
De que maneira Ouricuri, sua terra natal, e região,
influenciam na sua escrita?
– Penso que não há nenhuma simbiose entre o meio em que
nasci e a minha criação, pelo menos não no sentido da motivação inicial. O que
certamente se pode perceber é que a memória registra cada momento da vida e que
tal registro reflete em vários textos que criei. Esse reflexo pode ser, às
vezes, visível a qualquer leitor; outras vezes, somente ao escritor. Pode
acontecer de ser invisível até ao escritor. Ouricuri, hoje, igual à Itabira de
Drummond, “é apenas um retrato na parede”. Mas há o bar de Pita.
Tendo estado em várias outros países com povos e costumes
diferentes, o que traz do mundo para seu terreiro?
– Respondo com um poema do meu quase livro Arquivo perdido,
inédito:
A poesia se reconheça
neste que declara
a língua
é de todos e a fala
de cada um
a invenção
ao alcance das onze mil tribos
do mundo
foge de vesgos padrões
nega a cor local única
universaliza-se.
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