A maior parte das pessoas que se dedicam ao estudo dos folhetos de feira, tem conhecimento da avalanche de cordéis publicados aleatoriamente, sem a preocupação com os elementos básicos que compõem a feitura do mesmo. È simples e necessário ter em mente as noções básicas da rima, da métrica, do conteúdo, do número de páginas, como de resto, as histórias fantásticas, misteriosas das regiões nordestinas, que compõem a magia dos poetas de “bancada”. È comum nós nos depararmos com supostos cordéis escritos por pessoas fora de contexto em comemorações de aniversários, festas de casamentos, bodas prata etc.
Daí, a justa preocupação dos estudiosos de fato, com essas publicações que vem desvirtuar a autenticidade do material composto. A preocupação com a intervenção dos intelectuais nos folhetos de feira, não é de hoje. Em 1976, durante o “Ciclo de Estudos”, sobre a Literatura de Cordel, realizado em Fortaleza, no Ceará o Professor Raymonnd Cantel, da “Sorbonne”, uma das mais respeitadas autoridades no assunto, foi indagado sobre qual seria a definição mais compacta, que se poderia dar ao cordel. “Não tem outra coisa senão isto: - Poesia narrativa, popular impressa.” “De maneira que qualquer outra manifestação semelhante ao cordel, cujo conteúdo divirja deste trinômio, deve ser apreciada com reserva. Não é poesia de cordel autêntica”.
Em 1977, noutro Simpósio em São Paulo, a questão veio à tona. A publicação exagerada pelos intelectuais, ou placebo de poeta, como em alguns casos, preocupa os estudiosos. Os pesquisadores foram enfáticos: - falta aos intelectuais a característica popular. “Seriam apenas, meros pastiches”. Alegam ainda, que hoje, seria fácil identificar a autoria de vários folhetos, mas daqui a cinqüenta, cem anos?
O Professor Roberto Benjamim, das Universidades, Federal Rural e Católica de Pernambuco, autor de inúmeros trabalhos em torno do assunto, Presidente da Comissão Pernambucana de Folclore, ao participar da I Jornada de Literatura de Cordel, realizada em Campinas, São Paulo, no ano de 1982, publicou um trabalho brilhante, submetido ao título:- A INVASÃO DOS NÃO POPULARES NA LITERATURA DE CORDEL. O Pesquisador contestou em seu trabalho, a autenticidade dessa poesia, ao dissecar sua estrutura artificiosa:- “Ninguém é poeta porque diz que é, ou pretende ser”. “O poeta popular é uma expressão da região, do seu povo, com sua linguagem própria e sabedoria popular”. “O cordel é o seu veículo de trabalho no nordeste brasileiro”. Portanto, caro leitor, o assunto deve ser discutido, mas na grandeza, sem doença, quando possível, para o bem desses poetas populares, que geralmente têm ou tiveram uma vida sofrida. Então, como morreu Vitalino (acariciando o barro com suas próprias mãos), de Caruaru; de que modo vive Dilla,”o gênio da raça”; como morreu Firmino Teixeira do Amaral, piauiense que nasceu às margens do rio Parnaíba, um histórico e respeitado cordelista, dono de oficina de cordel, que foi tentar a vida em Belém do Pará, mas como não deu certo, voltou para ensaiar o seu cadáver em sua terra natal? Devemos acrescentar que a questão exposta, traduz uma preocupação dos especialistas participantes dos referidos Simpósios. A história irá configurar ou não, a preocupação desses estudiosos, no que concerne à intervenção dos não populares na literatura de cordel.
Ésio Rafael
Pesquisador de cultura popular
Poeta e Professor
Pesquisador de cultura popular
Poeta e Professor
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