Jorge Renato de Menezes, poeta conhecido artisticamente por Jorge Filó, nasceu em Recife em 1969. Viveu a infância entre as cidades de Recife, Tuparetama, São José do Egito e Arcoverde. Nesta última, viveu da adolescência à fase adulta, exercitando a produção cultural, quando se mudou para o Recife em 1998, onde reside até hoje.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Do livro "As curvas do meu caminho"
A paixão é um rio cheio
De água clara ou escura
Pra se passar pelo meio
Sem conhecer a fundura.
Poeta Manoel Filó.
Eu assino este manifesto!!!
Nos últimos dez anos tenho viajado freqüentemente pelo sertão de Pernambuco, e assistido, não sem revolta, a um processo cruel de desconstrução da cultura sertaneja com a conivência da maioria das prefeituras e rádios do interior. Em todos os espaços de convivência, praças, bares, e na quase maioria dos shows, o que se escuta é música de péssima qualidade que, não raro, desqualifica e coisifica a mulher e embrutece o homem.
O que adianta as campanhas bem intencionadas do governo federal contra o alcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta “beber, cair e levantar”, ou “dinheiro na mão e calcinha no chão” ? O que adianta o governo estadual criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam e rebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homens que se divertem cantando “vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado” ? Será que são esses trogloditas que chegam em casa, depois de beber, cair e levantar, e surram suas mulheres e abusam de suas filhas e enteadas? Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tão atuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira e violenta? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois leio os três jornais de maior circulação no estado todos os dias, e nada encontro que questione tamanha barbárie. E boa parte dos meios de comunicação são coniventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminação dessas músicas de baixa qualidade.
E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menos favorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instrução escolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem, escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seus moderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta dos cds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem os promotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreas de atuação, esses abusos?
Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas criaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nome forró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não é forro! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiram numa matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem uma coreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega vários ritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musical que, em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam como bandas de “forró eletrônico”! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga já faziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80.
Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produção de um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas; tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos! Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo gonzaguiano. A qualidade técnica e visual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produção mais cuidadosa para as apresentações em geral.
Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digam Chico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo!
Mas, felizmente, há exemplos que podem ser seguidos. A Prefeitura do Recife vem conseguindo realizar um São João e outras festas de nosso calendário cultural com uma boa curadoria musical e retorno excelente de público. A Fundarpe tem demonstrado a mesma boa vontade ao priorizar projetos de qualidade e relevância cultural.
Escrevendo essas linhas, recordo minha infância em Serra Talhada, ouvindo o maestro Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax, em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu do Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta!
Anselmo Alves
j.anselmoalves@hotmail.com
quinta-feira, 20 de março de 2008
Um soneto
Nenhum verso no mundo satisfaz
Meu desejo ancestral do improviso
Quanto mais faço versos, mais preciso
Fazer versos e mais e mais e mais.
O repente em mim só sente paz
Quando explode na caixa do juízo
Cada verso pra mim é pra Narciso
Um espelho a mostrar que sou capaz.
O repente acelera o pensamento
Cada verso retrata um sentimento
Que nenhum outro ser, por si, revela.
A não ser um poeta improvisando
As belezas do mundo vislumbrando
Do batente que Deus tem na janela.
Jorge Filó
terça-feira, 18 de março de 2008
Eu hoje pesquisando sobre Pinto do Monteiro, fui bater em Mário Quintana – essa tal de internet é F... –, pois bem, lendo algumas de suas citações, essas me chamaram a atenção.
“A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe”
“O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!”
Mário Quintana
Aaaaaah! Os poetas!
sexta-feira, 14 de março de 2008
Do livro "As curvas do meu caminho"
Fiquem a vontade!
Jó
A chuva de pedra amassa
Qualquer barracão de zinco.
Manoel Filó:
No ano de oitenta e cinco
Quando chegava a tardinha
O povo chega tremia
Sabendo que a cheia vinha
Tapando as cacimbas feitas
Fazendo aonde não tinha.
Jó:
Normalmente a prostituta
Deixa o companheiro farto.
Manoel Filó:
São companheiras de quarto
Da mulher prostituída
Uma bacia com água
Uma toalha encardida
Aumentando os arranhões
No quadro negro da vida.
Jó:
Vamos cantar mais um pouco
Enquanto a chuva não cessa.
Manoel Filó:
Quando o inverno começa
Fica o mundo transformado
O mato que apodrece
No aceiro do roçado
Fica desprendendo um cheiro
De bacalhau cozinhado.
Jó:
Manoel ficou parado
Mas agora decidiu.
Manoel Filó.
João dos Passos me pediu
Que eu cantasse um pouquinho.
Mas eu me sinto cansado
Igualmente a um passarinho
Que passou o dia todo
Tangendo cobra do ninho.
Jó:
A memória fica falha
Depois que a idade cresce.
Manoel Filó:
O homem quando envelhece
Fica todo diferente.
Embora ele tenha sido
Um rapaz inteligente,
Começa aparecer falhas
Nas engrenagens da mente.
Jó:
O inverno muda o cheiro
Do campo na ventania.
Manoel Filó:
Quando a chuva principia
Se recomeça o trabalho.
Quem olhar, vê pelas plantas
Milhões de pingos de orvalho,
Como se houvesse um rosário
Pendurado em cada galho.
Jó:
Como foi ingrata a vida
Da tua mãe e da minha.
Manoel Filó:
Mãe deitava uma galinha
Numa tigela quebrada
Escorava com três pedras
E mais um caco de enxada
Para os ovos não gorarem
Se desse uma trovoada.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Mestre Chico
Serviço
O quê? Aniversário de Chico
Onde? Bar e restaurante Arriegua (CDU)
Quando? Dia 14 de março
Que hora? 12h (meio-dia)
DE GRATIS!!!