segunda-feira, 30 de julho de 2012

Ta chegando o dia...


Venha ver no Pajeú
A poesia jorrando
O repentista inspirado
Seu poema fabricando
Retirando o improviso
Do porão do seu juízo
Pra depois o ver brilhando.


sábado, 21 de julho de 2012

Programação para Cancão..




Programação CENTENÁRIO DE CANCÃO:
Local: SÃO JOSÉ DO EGITO - CENTRO DE INCLUSÃO DIGITAL

SEXTA-FEIRA – 27.07.2012

15:00 – 16:00 PALESTRA DE ABERTURA: Cancão e Augusto dos Anjos: Diálogo entre o popular e o Erudito
Prof. Dr. Josivaldo Custódio Universidade de Pernambuco – UPE

16:15 – 16:45 CANTORIA: Os dois coqueiros
Afonso Pequeno e Lázaro Pessoa
Apresentação: Marcos Passos

17:00 – 18:00 PALESTRA: O cantar do Pajeú: Tradição e oralidade na poética popular
Profª. Drª. Karlla Christine Souza Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN)

19:30 – 20:00 LANÇAMENTO DO LIVRO: Cancão, o gênio Inocente Autor: Paulo Passos

20:15 – 21: 15 MESA DE GLOSAS: Ninho Roubado Glosadores: Aldo Neves (Tuparetama) / Alexandre Morais (Afogados da Ingazeira) / Clécio Rimas e Dudu Morais (Tabira) / Caio Meneses, Maciel Correia e João Filho (São José do Egito) / Zé Adalberto (Itapetim).
Apresentação: Marcos Passos

21:30 – 23:00 SHOW: Palavras ao Plenilúnio
Chico Pedrosa
Bia Marinho
Apresentação: Marcos Passos

SÁBADO – 28.07.2012

10:30 – 12:30 MESA DE PROSA: A casa do ébrio (prosa sobre a vida e a obra de Cancão com amigos que conviveram com o poeta) Prosadores: Antônio de Catarina, Zé Silva, Edvaldo da Bodega, Sebastião Siqueira (Beijo), Cícero Formosino, Pedro Tunu, Reginaldo/Donzílio Luiz
Apresentação: Edinaldo Leite

15:00 – 16:00 PALESTRA: O conto popular e a poesia de Cancão: um estudo comparativo Prof. Dra. Maria Nazareth Arrais Universidade Federal da Paraíba – UFPB

16:15 – 17:15 AULA-ESPETÁCULO: A serra do Teixeira e o nascimento do Pássaro Poeta
Edison Roberto
Marcos Passos
Greg Marinho

17:30 – 18:30 PALESTRA DE ENCERRAMENTO: A poesia de Cancão como marco do Pajeú
Prof. Dr. Nélson Barbosa Universidade Federal da Paraíba – UFPB

19:00- 20:00 Recital poético musical:
Diversos declamadores e músicos
Apresentação: Marcos Passos

20:30 – 21:45 MESA REDONDA: Cancão e a tradição poética do Pajeú

Aroldo Ferreira Leão
(Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF)

Neném Patriota
Colégio Interativo (São José do Egito)

Meca Moreno
(União dos Cordelistas de Pernambuco– UNICORDEL)

22:00 – 24:00 SHOW: Depois da Chuva

Em Canto e Poesia (São José do Egito)

Tonino Arcoverde (Arcoverde)
Lançamento do cd Depois da Chuva (Cancão / Tonino Arcoverde)
Apresentação: Marcos Passos

terça-feira, 17 de julho de 2012

Mais uma pra Luiz...

Capa de Elífas Andreato em 1976.
Pois é, ainda é só o começo!



Já está na loja, ou melhor, no templo sagrado da boa música em Recife-PE, o mais novo trabalho em homenagem ao inesquecível e inesgotável Rei do Baião, o Mestre Luiz Gonzaga, Seu Lua, o filho de Januário. Não importa se esta é a 1ª ou 100ª homenagem ao Rei este ano, afinal estamos em 2012, ano do seu centenário de nascimento, e sua obra é merecedora de todas as honras.

Esta vem com gosto de novidade e, de certa forma, afeita a polêmicas, dada a algumas interpretações e seus atores. É uma obra inédita, mas com canções já regravadas inúmeras vezes, ou seja, o ineditismo esta nas interpretações. Muitos já gravaram Luiz Gonzaga, inclusive junto com ele – outras canções – outros nem se quer o conheceram ou gravaram algo de seu repertório.

Então tai, a relação das músicas e de seus cantores.

Inf. Para adquirir a caixa com 03 CDs 81-3268.0888.


CD 1 - SERTÃO
1. Asa Branca - Dominguinhos, Amelinha, Geraldo Azevedo, Ednardo e Anastácia
2. A Volta da Asa Branca - Fafá de Belém
3. A Morte do Vaqueiro - Zé Ramalho
4. No Meu Pé de Serra - Elba Ramalho
5. Estrada de Canindé - Geraldo Azevedo
6. Légua Tirana - Amelinha
7. Assum Preto - Vanguart
8. Acauã - Cida Moreira
9. Juazeiro - Daniel Gonzaga
10. Riacho do Navio - Ayrton Montarroyos
11. A Vida do Viajante - Zezé Motta
12. A Feira de Caruaru - Anastácia e Osvaldinho do Acordeon
13. Vozes da Seca - Cátia de França, Baião da Garoa - Passoca 
14. Pau de arara - Chico César
15. Ave Maria Sertaneja - Guadalupe e Liv Moraes
16. Boiadeiro - André Rio (com participação especial de Mestre Genaro)
17.Noites Brasileiras - Gonzaga Leal 


CD 2 - XAMÊGO
1. A Sorte É Cega - Filipe Catto
2. Orélia - Ylana Queiroga
3. Xamêgo - Maria Alcina
4. O Cheiro da Carolina - Forró in the Dark
5. Xanduzinha - Karina Buhr
6. Balance Eu - Thaís Gulin
7. Vem Morena - Ednardo
8. Cintura Fina - Gaby Amarantos
9. Qui Nem Jiló - Angela RoRo
10. Sabiá - Jussara Silveira
11. A letra I - Verônica Ferriani e Chorando as Pitangas
12 .Açucena Cheirosa - Rolando Boldrin e Regional Imperial
13. O Xote das Meninas / Capim Novo - Elke Maravilha e Trio Dona Zefa
14. Roendo a Unha - Célia
15. Dúvida - Maria Creuza
16. Olha pro Céu - Vânia Bastos

CD 3 - BAIÃO
1. Baião - Wanderléa
2. Respeita Januário - Zeca Baleiro
3. Daquele Jeito - Dominguinhos
4. Imbalança - Paulo Neto 
5. Paraíba - Márcia Castro
6. Dezessete Légua e Meia - Milena
7. Forró de Mané Vito - Eliana Pittman
8. ABC do Sertão - Virgínia Rosa
9. Forró no Escuro - Simoninha
10. Baião de Dois - Claudette Soares e B3 Orgão Trio
11. Dezessete e Setecentos / Calango da Lacraia / O Torrado - Edy Star e Banda Monomotor
12.Deixa a Tanga Voar - Ela
13. Lorota Boa - Silvia Machete
14. Siri Jogando Bola - China
15. Derramaro o Gai - 5 a Seco
16. Mangaratiba - Silvia Maria e Dalua
17.Madame Baião - Nation Beat



segunda-feira, 16 de julho de 2012

Tá chegando o dia...


Um Mestre da poesia...

Pés de Galinha


Passei a infância toda
Achando que a minha mãe
Gostava de pés de galinha,
Comia com tanto gosto
Chupava até os ossinhos.
"Ninguém come os pés, são meus"- dizia
Toda a carne dividia
Peito, coxas e titela,
Fígado, coração e muela,
Mas os pés, os pés era só prá ela.
Depois de todos servidos,
Então sentava e comia.
Mas o tempo foi passando,
A criançada crescendo,
Os maiores trabalhando,
A vida foi melhorando.
Depois de uma infância dura
Começamos Ter fartura.
Vi minha mãe na cozinha
Tratando de uma galinha
E ao contrário de outrora
Flagrei aquela velhinha
Jogando os pèzinhos fora
Ao notar o meu espanto
Aquele coração santo
Da minha doce mãezinha
Apressou-se em explicar:
"Nunca gostei do tal do pé de galinha"
É que a carne era tão pouca,
Prá tantas bocas não dava,
E prá você não ficar triste
Eu fingia que gostava.


Bernardo Alves

domingo, 15 de julho de 2012

A genialidade de um, contada por outro...




Orlando Tejo e o Agiota
Por Luiz Berto

Era manhã de segunda-feira e Orlando Tejo invadiu minha sala num aperreio que não era de seu costume.
– Berto, tô encalacrado.
Não sei se vocês sabem, mas Orlando Tejo é o sujeito mais calmo e descansado desse mundo, incapaz de se aperrear até dentro de uma casa em chamas. Mas naquela manhã, o homem estava mais agoniado do que bacorinho em caçuá.
A tranquilidade habitual, emoldurada pelas serenas baforadas no cachimbo, fora substituída por um avexamento que, francamente, deixou-me curioso. E largou o seu problema sem mais demora:
–É o seguinte: o novo gerente da Caixa Econômica é meu leitor e se tornou meu amigo. Assumiu a agência e me deu um cheque especial na sexta-feira. Resultado: já estourei o limite em trinta mil cruzeiros neste fim de semana.
Conhecedor da total inabilidade de Orlando para gerir suas finanças, para mim não foi surpresa o estouro no limite do cheque especial. Surpreendente era a velocidade com que isso se dera. Recebera o cheque na sexta-feira e na segunda já estava pendurado. Em verdade, suas habilidades aritméticas limitavam-se à soma das mais alegres lembranças, à subtração de tristezas, à multiplicação da imensa legião de amigos e à divisão de uma ternura e de um lirismo que só mesmo pessoas encantadas como Tejo estão autorizadas a ter.
Expliquei-lhe que estava duro e não poderia ajudá-lo no momento. Estava sendo tão franco quanto, com a mesma franqueza, lhe arranjaria imediatamente a miserável quantia, caso a tivesse, para não vê-lo naquele sufoco. Funcionário público só vê a cor do dinheiro no fim do mês e, por infelicidade, estávamos ainda no início da segunda quinzena. Tentei explicar-lhe isso com tranquilidade, mas ele parecia insensível a qualquer argumento.
–Mas eu não posso é ficar desmoralizado perante o gerente, que é meu conterrâneo da Paraíba e me deu o cheque especial em confiança, por amor aos meus escritos. Um admirador, em resumo. Vai ser muito chato...
Expliquei-lhe que pessoalmente não podia fazer nada. Mas lembrei-lhe que, como em toda boa repartição pública, a Câmara tinha o seu agiota de plantão para socorrer os desesperados naquelas precisões agoniosas. O anjo da guarda dos necessitados, acudidor de precisões prementes, tão injustamente malhado pelas pessoas gradas, mas capaz de salvar um vivente de um sufoco sem fazer fichas, preencher cadastros, telefonar para o SPC ou exigir promissórias registradas em cartório. E dei a indicação ao Tejo:
–É só você procurar o Canindé.
Meu amigo João Canindé Tolentino Ribeiro entrou nessa história como Pilatos entrou no Credo. Tão lascado quanto qualquer um de nós, apenas estabelecia o contato entre o agiota e os possíveis fregueses, não ganhando nada com isso, salvo o fato de se beneficiar com um juro mais baixo quando também precisasse de dinheiro. Orlando Tejo não sabia quem era Canindé, mas já o tratou com uma familiaridade que era bem do seu estilo.
–Então ligue logo para esse filho da puta desse Canindé, e diga que preciso de trinta.
Liguei para Canindé e ele disse que só poderia dar a resposta de tarde. Estávamos ainda no começo da manhã. Tejo não gostou, mas teve que se conformar e, logo após o almoço, já estava de novo na minha sala à espera de notícias. Francamente, nunca lhe vira tão agoniado.
–Ligue logo para esse filho de uma égua, pelo amor de Deus.
Canindé mandou dizer que, se o dinheiro saísse, só sairia no dia seguinte, terça-feira. Transmiti o recado ao Tejo e ele desesperou-se.
–Explique a esse filho da puta que desse jeito vai ser tarde demais. Os cheques que emiti devem entrar hoje à noite.
Desolado com o drama do meu amigo, acompanhei com o alhar a sua saída nervosa, pitando furiosamente o cachimbo e maldizendo a sorte. A aura de lirismo que marcava sempre sua figura estava seriamente arranhada pela agonia que transpirava dos seus poros. Pobre Tejo, necessitado de trinta neste vasto mundão de meu Deus e ninguém para acudi-lo...
No dia seguinte, quando cheguei à minha sala, já o encontrei de plantão, sorrindo esperançoso.
–Acabei de me informar no banco: nenhum cheque entrou ainda. Ligue logo para esse miserável desse Canindé.
Liguei. Canindé informou que só à tarde. Transmiti a informação ao Tejo.
–Assim não dá! Esse filho da puta quer me matar.
Na primeira hora da tarde volta Tejo avexado.
–Ainda não entrou cheque nenhum. Ligue de novo.
Liguei e Canindé disse para ligar daí à meia hora. Transmiti a informação. Tejo deu uma puxada no cachimbo e caminhou um pouco pela sala sem falar nada. Ficou de costa para mim, olhando um ponto indefinido na parede em frente. Sentou-se numa poltrona.
E, então, baixou o santo: Tejo ficou calmo de repente, me pediu uma folha de papel e começou a rabiscar. Eu acompanhava com um rabo de olho e procurava não perturbar, pois sabia que ele estava em pleno processo de criação. A mão corria devagar pelo papel e, de vez em quando, ele fazia pequenas pausas como se estivesse conferindo o que já havia escrito. Estava tranquilo e era outro homem, bem diferente daquele que há poucos instantes necessitava desesperadamente de trinta.
Levantou-se e me passou umas folhas naquela sua caligrafia miserável que eu já estava habituado a decifrar. A letra de Tejo, qual moderna Pedra da Roseta, exige as habilidades de um novo Champollion para trazê-la ao entendimento dos mortais comuns. Comecei a ler e me dei conta da preciosidade que tinha em mãos. Aquilo, realmente, era uma obra de Tejo e ali estava o seu espírito paraibano, nordestino, poético, moleque, imprevisível por inteiro. Dar uma trégua ao aperreio para parir um negócio daqueles, só mesmo vindo dele.
Para se entender o acontecido, vale ressaltar que a história se passava na Câmara dos Deputados, cujo presidente, á época, era o Deputado Flávio Marcílio e que Delfim Netto era o então Ministro da Fazenda. Um tempo tão da porra que ninguém jamais será capaz de esquecer... Vou transcrever do jeito que ele me deu.

LOUVAÇÃO A CANINDÉ

Estando sem um tostão
E me encontrando bem perto,
Fui procurar Luiz Berto
Para alguma solução.
Berto disse: “Meu irmão,
Eu também queria até
Fazer um querrequequé
Daquele que o diabo pinta
Para ver se arranco trinta
Do bolso de Canindé.

E toca a telefonar
E Canindé a correr,
Mas não pôde se esconder
E teve que tapear:
“Pela manhã não vai dar,
Porque de tarde é que é
Bom para a coisa dar pé.
Aguarde, portanto, amigo”.
Berto ficou de castigo
Esperando Canindé.

E eu que necessitava
Também da mesma quantia
Me fiei nessa franquia
Que Canindé propalava
Quando eu menos esperava
O safado, de má fé,
Filho de puta ralé,
Disse que hoje não tem nada...
Ah! Uma foice amolada
No chifre de Canindé.

Eu já podia notar
E mudar de interesse
Que um cabra com um nome desse
Não podia prestar.
Entretanto, vou esperar
Até amanhã com fé.
Se ele me deixar a pé,
Juro por Nossa Senhora:
Corto de pau uma tora
E vou matar Canindé.

A cabra fuma e não traga
Faz do crime o seu idílio!
Onde está Flávio Marcilio
Que não demite esta praga?
Ao menos dava-se a vaga
Pra um sujeito de fé,
Já que esse indivíduo é
Um tratante e delinquente
Haja chumbo grosso e quente
No rabo de Canindé.

Por capricho do destino
De Satanás ou de Deus Brahma,
O bicho também se chama
Coisa e tal e Tolentino,
Doido, avarento e mofino,
Não conhece a Santa Sé,
Faz da cola o seu rapé,
Vive da desgraça alheia,
Devia estar na cadeia
Esse tal de Canindé.

Não sei como Luiz Berto
Este escritor inspirado,
Toma dinheiro emprestado
A um ladrão tão esperto,
Que representa um deserto
De trabalho, amor e fé,
Que anda de marcha ré
Pela estrada da virtude
E além de covarde e rude
Se assina por Canindé.

Antes quero outro “pacote”
Desemprego, moratória,
Ver Delfim contar história,
Comer carne de caçote,
Levar chumbo no cangote,
E abraçar com jacaré,
Beber caldo de chulé,
Dar o rabo a marinheiro,
Do que tomar um cruzeiro
Emprestado a Canindé.

Corri para a máquina de escrever a fim de botar em letra de forma a tradução dos garranchos e, quando comecei a datilografar, o telefone tocou. Fiquei incomodado com o toque da campainha. Atendi a contragosto, com a esperança de que a conversa fosse breve. Era o Canindé.
–Diga ao seu amigo que o dinheiro saiu. Pode vir apanhar.
Ai eu ri gostoso! Depois daquela “louvação”, eu queria ver qual a reação do meu amigo diante da liberação do dinheiro. Acabaram-se os aperreios. O mundo voltava ao normal e tornava a correr nos eixos. Dei a notícia ao Tejo e ele me olhou morrendo de alegria. Parecia um menino.
–Saiu? Então me dê ai papel que eu vou escrever de novo.
Mandei alguém ir buscar o dinheiro enquanto Tejo se ajeitava num canto e começava a escrever novamente. Parece que a boa notícia fazia-o escrever mais ligeiro. A caneta deslizava sem interrupções sobre o papel. Até as baforadas do cachimbo boiavam coloridas. Olhou a sua obra, deu um sorriso maroto e me passou a papelada. Saiu o seguinte:

NOSSO AMIGO CANINDÉ

Um sujeito despeitado,
Desses de baixa maré,
Inventou que Canindé
É um canalha safado.
Eu fiquei preocupado
Com a informação ralé,
Porém não perdi a fé
Em quem merece louvores...
E haja palmas e haja flores
Na fronte de Canindé.

Tenho dito e sustentado
(Todo mundo sabe disso)
Quem na Câmara, esse cortiço,
Há um cidadão honrado,
Pai de família extremado,
Homem de bem e de fé!
O Papa já disse até
Que há no torrão brasileiro
Padre Cícero em Juazeiro
E em Brasília, Canindé.

Sei que o Papa tem razão,
Mas ninguém quer saber disto.
Se já falaram de Cristo,
Que se dirá de um cristão!
Porém a fofoca não
Atinge um homem de fé.
E se eu descobrir quem é,
Meto a mão no pé do ouvido
Do sem-vergonha enxerido
Que falar de Canindé.

Canindé – nome decente!
Tolentino – ô nome macho!
Ribeiro – lindo riacho
Que mata a sede da gente!
Honrado, amigo e valente,
Subiu da glória o sopé...
A Virgem de Nazaré
Já lhe envolve com seu manto,
Por isso um caminho santo
Vai trilhando Canindé.

Canindé pra ser beato
Só falta mesmo a batina,
Pois tem vocação divina
Pureza, fé e recato!
Por isso ele é o retrato
Mais fiel de São José
E já se comenta até
Que Frei Damião Bozano
Sugeriu ao Vaticano
Canonizar Canindé.

Mas sabem por que razão
Já querem canonizá-lo?
É por causa de um estalo
Que recebeu nosso irmão
Lá nas margens do Jordão,
Ao lado de São Tomé,
Quando dava cafuné
Numa velhinha doente
E morreu a penitente
Nos braços de Canindé.

Nesse chão onde ele pisa,
Por ser grande patriota,
Se faz até de agiota
Pra ajudar a quem precisa.
Mas não comercializa
A sua alma de fé!
Jamais ganhou um café
Pelo dinheiro que empresta...
A caridade é uma festa
Para a alma de Canindé.

Santo Agostinho, dos santos
Foi o mais puro entre os ermos
Que consolava os enfermos
E lhes enxugava os prantos.
Obrava milagres tantos,
Pala pureza e a fé
Pois acreditava até
Em falar de passarinho.
Mas sabe? Santo Agostinho
É pinto pra Canindé.

E mais não disse e nem lhe foi perguntado.

Merecido demais...


terça-feira, 10 de julho de 2012

Muito mais que recomendo...



Fui a Feneart e digo, e provo, para tod@s que aqui adentram, que é um dos melhores passeios a se fazer por estes dias na capital pernambuCana [o C maiúsculo é pra dá água na boca mermo].

Tem de tudo e mais uma tuia de coisa.

De mesa de uma peça só, medindo de 4m a 5m, de tronco de jaqueira, passando pelos chapéus de panamá, vindos do Equador é claro, às maravilhas em couro criadas pelo Mestre Espedito Seleiro, onde comprei essa percata arretada.

Isso sem falar nas apresentações culturais, as mais variadas e mais representativas da nossa cultura. Vale demais uma visita, um passeio pelas suas ruas cheias de estandes de todos os estados deste imenso e criativo país, além de várias outras nações.

Eu recomendo...

Deu no JC de hoje...


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mais um GRANDE centenário...


João Batista de Siqueira nasceu no dia 12 de maio de 1912, no sítio Queimadas, município de São José do Egito/PE.Começou sua vida poética na cantoria de viola, deixando essa prática na década de 1950, para se dedicar com afinco à poesia escrita. É considerado pelos seus pares o maior poeta do vale do Pajeú. Pesquisadores de sua obra veem o poeta como sendo uma versão popular dos poetas românticos do século XIX, a exemplo de Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Castro Alves.

       Apesar de não ter frequentado o ensino formal das escolas, usava um vasto vocabulário, incomum para um poeta de sua formação. Há quem afirme que Cancão, sentimental ao extremo, fazia versos até sonhando e comumente despertava, às madrugadas, para transportar seus sonhos ao papel da sensibilidade.

  O poeta deixou seus versos imortalizados nos livros: Musa Sertaneja(1967), Flores do Pajeú (1969) e Meu Lugarejo. (1979). Escreveu também os folhetos de cordel Fenômenos da noite, Mundo das trevas e Só Deus é que tem poder, hoje, compilados no livro Palavras ao Plenilúnio, organizado pelo poeta e pesquisador egipciense Lindoaldo Vieira Campos Júnior.

     Cancão, o gênio que transcendeu os limites da poesia, a ponto de o poeta Rogaciano Leite alegar-se incapaz de escrever sobre sua obra.



domingo, 8 de julho de 2012

Para Cunha Lima...



Valeu aquele encontro...

Conheci, ou apenas o vi uma única vez pessoalmente, quando ainda era muito jovem, na cidade do Cariri paraibano, Ouro Velho. Estava na região para inauguração de alguma obra do estado, posto que era governador à época, o que não o fez de fato.

Após encontrar-se com o amigo poeta e mestre das artes da Paraíba, José Nunes Filho, o Mestre Zé de Cazuza, deu ordens para os assessores e secretários darem encaminhamento aos deveres governamentais e abancou-se, junto ao poeta Zé, em um buteco da cidade, onde largaram-se a dizer poemas e a fazer improvisos para uma prestigiada platéia, que começou reduzida mas em pouco tempo já era imensurável. Lembro-me com nitidez deste momento.

Apesar de ter preenchido quase todos os cargos eletivos na política, Ronaldo José da Cunha Lima, sempre foi um grande poeta, um mecenas do repente, um divulgador da arte do seu chão...

Siga em paz poeta véi...

A paz do reino encantado
Lhe cubra de poesia
Fica o verso enlutado
Sem a sua companhia.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Poema pra MM...


Mais um, uma ova...

Nosso maestro poeta
Cantador Maciel Melo
Sempre seguiu sua meta
De cantar o que é belo
Lança seu trabalho novo
E presenteia seu povo
Fortalecendo este elo.

Na beleza do singelo
Exprime sua poesia
Pelo sol mais amarelo
O seu verso se irradia
Canta grande menestrel
Um brinde pra Maciel
Viva a sua cantoria.

Canta ele e companhia
De estrelas, um rosário
Brilhantes de melodia
Claves do nosso inventário
De beleza singular
Ouçam todos a cantar
Nos céus do imaginário.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Uma rádio de repentes...



Para ouvir, clique na imagem.

Já está na coluna ao lado [Direito], logo em primeiro plano, o link da Rádio Cultura Nordestina [RCN], com cantoria de viola 24h por dia, 07 dias por semana, o ano inteiro... Num carece nem clicar em nada, é entrar no blog e já começar escutando os mais variados poetas, de todas as gerações... É um serviço de primeira pra quem é da verve...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Vamos dar a largada...


Ato político-cultural em apoio à candidatura da poeta e militante dos direitos humanos Cida Pedrosa! Neste sábado, dia 07, faremos uma caminhada, como se fôssemos um verdadeiro bloco carnavalesco, saindo do Mercado da Boa Vista em direção ao comitê deCIDA, na Rua Afonso Pena, próximo à Universidade Católica.

Nossa troça será permeada por muita música e poesia, é claro! Sairemos às 15h pelas ruas do centro do Recife. Vamos abrir a temporada oficial de campanha todos juntos num só grito, numa só força, numa só voz... “Eu sou deCIDA”!!!


domingo, 1 de julho de 2012

Uma tarde de cantoria...


Foi num domingo, dia 17 de junho, deste ano de 2012, que se deu o fenomenal embate dos grandes mestres do repente, Adiel Luna, Astier Basílio, João Luiz e Maciel Correia. Quatro cantadores, duas duplas que se revezaram entre si e fizeram de uma tarde de domingo, geralmente sonolenta, um dia para se recordar com riqueza de detalhes.

Iniciou-se com a demora da chegada de Adiel – na casa do Mestre Ésio Rafael, onde tudo aconteceu – que já estava prontamente substituído pelo poeta Maciel, já presente. Com a chegada do poeta, dar-se início a peleja com os dois cantadores, Adiel e Astier, que seguiram cantando uma sextilha para abrir a contenda, como é de costume.

Enquanto cantavam o dois menestréis, chega ao ambiente, já sortido de grandes poetas e apologistas, o quarto cantador convocado, João Luiz. A parelha de Maciel para dar continuidade ao baião para o descanso da primeira dupla. Entram cantando e imitando Louro do Pajeú, João, e Pinto do Monteiro, Maciel. Um presente para os presentes.

Esta tertúlia durou a tarde inteira sem que ninguém se desse conta do tempo passar. Uma tarde pra ser repetida num futuro próximo. Um verdadeiro deleite para os apreciadores da arte imensurável do repente. Sai de lá embriagado de tudo; de repente, cachaça, apego dos amigos, com o cuidado do povo da casa...

Meus mais que sinceros agradecimentos a Ésio e Celis, os anfitriões, Marcelle e Marília, filhas do casal, e Paulo e Tarciso, os genros, completando o time do povo da casa. A assistência, ávidos ouvintes, que prestigiaram a cantoria, com quem comungo do sentimento de alegria por ter estado no ambiente poético do terreiro [puleiro] da casa de Ésio.

Este registro foi feito por Sennor Ramos, editor do site Interpoética, que em breve vai postar outros vídeos, incluindo os outros dois repentistas citados.

Um abraço em todos e espero que aproveitem...