Severino Cordeiro de Sousa (Bio
Crisanto), nasceu aos 09 de maio de 1929, no povoado São Vicente, na época
município de São José do Egito. Filho de Crisântemo Olegário de Sousa e
Blandina Maciel de Sousa, nos seus primeiros anos de vida foi residir em Sumé –
PB, retornando à Capital da Poesia já adolescente. Aos oito anos de idade,
escreveu sua primeira poesia, “Vida na Roça”. A partir daí a arte do versejar
tomou conta da sua vida e, junto ao irmão Macilon Olegário de Sousa, foi
cantador de viola durante três anos.
Na década de 50, logo após o
falecimento de seu genitor, Bio Crisanto mudou-se para Jacobina – BA, onde
exerceu outras atividades profissionais. Naquela cidade, em novembro de 1959,
por excesso de trabalho, sofreu um esgotamento físico e foi hospitalizado. Uma
enfermeira sem conhecimentos anatômicos aplicou-lhe uma injeção no glúteo onde
a agulha atingiu a cartilagem do tendão de locomoção. A partir dessa data o
poeta não andaria mais.
No início da década de 60, Bio
retorna a São José do Egito e começa sua luta para adequar-se a doença que o
acometeu. Depois de morar alguns anos com a família, decide residir sozinho.
Grandes companheiros de suas
horas de solidão foram amigos, familiares e os livros. Foi principalmente na
dedicação à leitura que Bio Crisanto superou suas mágoas e, na poesia, expôs
toda sua sentimentalidade, valorização ao regionalismo e teorias sobre a vida.
A arte do pensar foi a grande responsável pelo título que recebeu: “Poeta
Filósofo”.
Na década de 60, em períodos
tensos de nossa história, Bio escreveu “Fase Semi-Feudal”, poema consagrado que
lhe rendeu elogios além fronteiras pernambucanas. Por se tratar de versos
hostis ao regime militar, nenhuma das suas 14 estrofes foi publicada no seu
livro.
Em 1975, o sonho de publicar um
livro é realizado. Prefaciado pelo grande amigo e poeta Aleixo Leite Filho, Bio
Crisanto lança “Meu Trigal”, um composto de prosa e versos. Na obra, o poeta
conduz o leitor aos seus pensamentos filosóficos e envereda na poesia, dando
ênfase ao estilo soneto.
Nas horas de conversa, quase
sempre debruçado na janela de sua residência, localizada na Rua do Poeta,
denominação escolhida em sua homenagem, Bio atendia inúmeros estudantes em
busca de conhecimentos, levantava importantes assuntos ao lado de amigos e
sempre que outro poeta o visitava, a glosa tomava conta do ambiente.
Na década de 90 foi fundador do
Clube de Cultura Literária, entidade que por mais de dez anos foi instrumento
forte na promoção cultural da Região. Ainda nessa época, participou de diversos
concursos de poesia, obtendo os primeiros lugares.
Membro da União Brasileira de
Escritores, teve alguns de seus poemas publicados em jornais e nos livros “São
José do Egito – Musa do Pajeú” e “São José do Egito – Solo Sagrando, Mentes Iluminadas”.
Bio Crisanto faleceu com 71 anos,
aos 22 de agosto de 2000. Seus poemas inéditos estão sendo catalogados e serão
inseridos na publicação de seu segundo livro “Meu Madrigal”, título escolhido
pelo poeta antes de sua morte. O novo livro trará, também, todo o conteúdo da
primeira publicação.
Estrofe 11 de “Fase Semi-Feudal”
(...)
“Libertas quae será tamem”
Quem dissera, quem dissera,
A frase existe entre nós
Liberdade quem nos dera!
De que vale independência
Onde não há consciência
Moral nem patriotismo,
Onde o Direito se vende
A Lei covarde se rende
Aos pés do capitalismo.
(...)
Soneto extraído do livro “Meu
Trigal”:
Dúvida
Nasci! De onde vim é que não sei,
Enfim, também não sei para que
vim,
Se vim para voltar para que fiquei
Neste intervalo de incerteza
assim?
Não foi do pó fecundo que brotei,
Não sei quem tal missão me impôs
a mim,
O acaso não foi, já estudei...
Desta incumbência desconheço o
fim.
Sou a metamorfose das moneras
Desagregadas nas primeiras eras,
Reunidas hoje nesta luta infinda.
Sou a passagem irreal da forma
Submetida aos desígnios da norma,
Do meu princípio não sei nada
ainda.
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