sexta-feira, 12 de abril de 2013

Fala Pedro!!!


O poeta, escritor e pesquisador, Pedro Américo de Farias, natural de Ouricuri, região do Araripe pernambucano, será o homenageado, da II Jornada Literária Chapada do Araripe, uma realização SESC-PE, que acontecerá de 18 a 27 deste mês em cinco cidades e dois distritos da região [Em breve programação completa].

Nesta entrevista, concedida ao nosso blog, com exclusividade, o poeta nos fala um pouco de tudo e convoca a todos para participar da Jornada, que culminará em sua Ouricuri com uma Mesa de Glosas e recital poético.

Entrevista por Jorge Filó.

Quando e como surgiu o Pedro Américo poeta, escritor e curioso de tudo?

– Primeiro veio o curioso de tudo, depois, pelos 13 anos, as primeiras leituras fora dos livros escolares, entre as quais o Tesouro da juventude. Já no Recife, depois do vestibular, comecei a ensinar em cursinhos preparatórios para supletivo e pré-vestibular (início dos anos 1970). Então, curtindo os textos na preparação de aulas fui descobrindo que eu também podia escrever, pois era só dar rédeas à imaginação e arrumar as frases da melhor maneira. Assim na poesia como na prosa, para décadas com fim, amém!

Quais suas referências literárias de sempre e de hoje, regionais e universais?

– Sou um leitor compulsivo e generalista. Gosto de tudo que tem sabor de engenho e arte, o que é encontrável em todas as tribos do mundo, na escrita como na oralidade. Homero e Pinto do Monteiro, Guimarães Rosa e Aquilino Ribeiro, Baudelaire e Manuel Xudu.

Como foi sair do Araripe, há 45 anos, e agora voltar como homenageado em um evento literário com a importância da Jornada?

– Não cultivo a vaidade pessoal como fatura de um status. Acredito na produção literária como dupla vertente: a) sou funcionário de uma instituição pública, para a qual entrei porque leio,escrevo, reviso e edito, portanto vivo de literatura; b) encaro o meu trabalho como militância política (a luta pela sensibilização e a liberdade de expressão) e como instrumento de prazer. Recebo a homenagem com muita simplicidade e com alegria, pelo que, ao meu ver, significa: reconhecimento ao meu trabalho de escritor e animador cultural (expressão gasta, mas é o que é). Esta homenagem também significa que a região do Araripe, como qualquer outra do planeta, integra o mundo do pensar e do fazer artístico. Vem por mim e vem por todos os que escrevem ou experimentam a arte literária/poética, nestes ermos distantes do colarinho engomado de todas as urbes letradas.

Que transformações, culturais e sociais, um evento como a jornada, pode legar a região do Araripe?

– Citando Castro Alves: “Oh! bendito o que semeia / Livros, livros, à mancheia / E manda o povo pensar...” – tirando o desnecessário ‘manda’, que vem do positivismo, fecho com Castro Alves na ideia de que tudo de bom, na vida como na educação – o Sesc é uma instituição educativa – consiste  em gerar oportunidade igual para todas as pessoas, estejam onde estiverem. Assim, vemos fluir a invenção e fruir o prazer do invento.
               
De que maneira Ouricuri, sua terra natal, e região, influenciam na sua escrita?

– Penso que não há nenhuma simbiose entre o meio em que nasci e a minha criação, pelo menos não no sentido da motivação inicial. O que certamente se pode perceber é que a memória registra cada momento da vida e que tal registro reflete em vários textos que criei. Esse reflexo pode ser, às vezes, visível a qualquer leitor; outras vezes, somente ao escritor. Pode acontecer de ser invisível até ao escritor. Ouricuri, hoje, igual à Itabira de Drummond, “é apenas um retrato na parede”. Mas há o bar de Pita.

Tendo estado em várias outros países com povos e costumes diferentes, o que traz do mundo para seu terreiro?

– Respondo com um poema do meu quase livro Arquivo perdido, inédito:

A poesia se reconheça
neste que declara
a língua
é de todos e a fala
de cada um

a invenção
ao alcance das onze mil tribos
do mundo
foge de vesgos padrões
nega a cor local única
universaliza-se.

 
Pedro Américo, Reinivaldo Pinheiro e Jorge Filó... 1987 Festa Universitária de São José do Egito

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