quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Meu amigo Ésio e a poesia...




O BRASIL É UMA RIMA
EM SEU CONTEXTO GERAL

Esse é o mote. E se esse é o mote, então vamos lá. A começar por nossa língua mãe. A língua portuguesa surgiu através das discussões orais, dos debates coletivos longe dos textos eruditos escritos pelos homens cultos da Roma Imperial. Assim dizem os historiadores. 

Aqui no Brasil, colonizadores, índios e africanos deram o grau necessário para que fosse se definindo com o tempo, o nosso patrimônio genético cultural. Daí, as dimensões geográficas com os seus respectivos agrupamentos instituíram modos de vida, sotaque, linguajar, pantins e mungangas. 

Sim, o Brasil é uma rima composta de ritmos, cadências e sincronias que o diferencia de outros povos. Uma das prováveis explicações para essa ocorrência repousa nas características comportamentais e fenotípicas dos nossos patrícios. A ginga, a gíria pontual, o charme, a boa malandragem, os sotaques. 

Sim, o Brasil é uma rima. Na música, a capacidade dos artistas é de deixar pasmos outros companheiros de outras culturas. João Gilberto, dentro do espaço, compasso, intervalo, ou outro nome que eu não sei dizer, estica ou alonga a voz. Jackson do pandeiro dá pra se notar que ele encurta. Enquanto o Padim, compositor de música carnavalesca, de Sertânia, imprensa. E, imprensar espaço para que caiba a letra da música de carnaval com o bombo correndo atrás, não é mole. O nome dele é Anacleto Carvalho.

Sim, o Brasil é uma rima, por todos esses e mais outros motivos ainda. De Roberto Carlos a Chico Buarque de Holanda. 

No Nordeste, a rima é muito mais forte muito mais característica. Ora! Nós reunimos partes desses predicados num só folego: rima, métrica, ritmo, cadência, oração e ainda falamos cantando. Temos a resposta imediata, na bucha, na lata, na sabedoria: - Tudo bom, Lourivá? – Tudo regulau. – Tinhas coragem de comer essa cabocla? – ca boca tinha. Ah! Sim, somos também chegados a um drama. O resultado é que todos os Estados nordestinos juntos formam um grande - CORAL DRAMÁTICO, como parte da nossa intransferível e honrada composição. E a gente num fala cantando mesmo. 

Na literatura - As Pelejas de Ojuara e O - Romance da Besta Fubana resumem o que estamos querendo dizer, sem que haja necessidade de evocarmos eternamente os já tão consagrados mestres da literatura nordestina. 

Nossas características são identificáveis facilmente, mesmo estando nós em uma difusa e cosmopolita metrópole. Em São Paulo, o nordestino é logo identificado por Estado e até por região devido ao carrego forte do sotaque. Certa vez, estávamos na Praça da República, centro, quando um cidadão de característica mediana nos aborda, conduzindo um pedaço de papel na mão. Com um olhar contrafeito, pergunta:

- O senhor pode me informar onde fica a Secretaria de Educação, por aquiiiiiiiiiiiii?- É porque me deram esse endereço num sabe, deu a gota e até agora, não encontrei porra nenhuma! 

- Poeta, você chegou quando de Pernambuco? Perguntei por curiosidade. Ele me deu toda a atenção e respondeu:

- E o senhor, chegou quando do Pajeú? 

- Por que a pergunta? Rebati.

- Porque só quem chama todo mundo de poeeeeeta, são os caba ou do Pajeú ou do Cariri paraibaaaaaaano.

No diálogo, eu havia juntado os elementos supra, para a devida perícia. 

O Recife é a maior cidade do interior do Estado. Uma mistura de elementos. Mesmo tendo nascido na capital, há um grande percentual de moradores de origens interioranas. O reflexo disso, nós vemos na música carnavalesca, Nelson Ferreira, nasceu em Bonito; Capiba – Surubim; Carlos Fernando - Caruaru. Na literatura/poesia/ cinema/ teatro/ artes. Gilvan Lemos - São Bento do Uma; Carrero – Salgueiro; Luzilá – Garanhuns; Lourival Holanda, Cícero Belmar, Cida Pedrosa - Bodocó. Luiz Berto - Palmares; Vital Santos - Caruaru, Luiz Marinho- Timbaúba (?), Cláudio Assis - Caruaru (?). 

No caso dos nossos cantadores, esses distintos e seculares fenômenos oriundos da serra do Teixeira, que divide dois Estados nordestinos. Pajeú, do lado de Pernambuco e Cariri, do lado paraibano. Eles condensam todas essas habilidades e censo poético, na medida em que criam na hora, versos imortais, apreendidos pelos ouvintes de cantoria, quando não tínhamos gravadores, mas muita cumplicidade. Essa décima em sete sílabas, improvisada pelo genial poeta Lourival Batista, o - Louro do Pajeú, está registrada em tudo quanto é livro em torno do assunto, momento em que ele externa o seu lamento em cima da sua própria sorte:

- É muito triste ser pobre
Para mim um mal pereNne
Trocando o P pelo N
É muito alegre ser nobre
Sendo com C fica cobre
Cobre figurado é ouro
Sendo com T fica touro
Como a carne e vendo a pele
O T sem o traço é L
Termino só sendo Louro 

No caderno Policia da – Folha De Pernambuco, quarta-feira, 21/08/13, pg 02, diz a manchete:- ENFERMEIRA BALEADA/ POR HOMENS DESCONHECIDOS. Eis aí uma prova inconteste de como nós, nordestinos, não só falamos metrificado, como escrevemos de maneira metrificada mesmo que inconscientemente. Trata-se de uma equipe de jornalistas de formação Acadêmica, mas que não foge das nossas origens. Esse é um - mote em sete, devidamente metrificado, portanto, dentro do ritmo e da cadência das nossas tradições poéticas do poder da palavra improvisada. Poderíamos até “pegar na deixa” e finalizar um um verso dizendo:

Quem cuida bem dos feridos
Hoje está avariada
“Enfermeira baleada
Por homens desconhecidos”.

Tá vendo aí, Luiz Berto? Mas, o Papa tem o poder de mando. É só pedir para que João Veiga reze por ela.


Os exemplos citados são apenas algumas referências no sentido de compor o texto, mas há uma gama de valores na cidade que destrói essa irreal e secular demarcação de terra poético/literária dispostas em poses e narizes bossais.

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